domingo, 28 de outubro de 2012

O vínculo e o parto


O parto já foi tema de um post aqui no Palpites de Mãe, mas resolvi voltar ao tema. Uma amiga grávida que está fazendo um curso para gestantes enviou uma mensagem perguntando se o parto da Raphinha havia sido normal ou cesárea. Contou que no tal curso “(eles) execram a cesariana... Cheguei a ouvir o absurdo de que o vínculo com o bebê não é o mesmo quando se faz cesárea”, e perguntou o que eu achava sobre o assunto.
Vou repetir aqui o que disse a ela: Fiz cesárea. A Raphinha estava muito "alta" como dizem e eu já estava com sangramento e apenas 2 centímetros de dilatação; não teria como ser normal. Mas não vou mentir que eu também morria de medo, durante a gestação, de ter que passar por essa segunda opção. E quanto ao que foi dito no curso sobre a relação entre o parto e o vínculo com o bebê... Quanta ignorância!!! Um completo absurdo!!!
É claro que há inúmeros benefícios do parto normal com relação à cesárea, tanto para a mãe quanto para o bebê. No entanto, nem sempre o parto normal é a opção mais indicada, a opção mais “normal” a ser adotada. Quantas mulheres na história morreram durante o parto e quantas vidas foram salvas pela cesárea... Se a medicina evoluiu a ponto de permitir uma alternativa para os casos em que o parto poderia representar um risco para a mãe e/ou para o bebê, porque não admitir essa possibilidade?
Lúcia Furlan Assessoria de Imprensa & RP
Como afirma a obstetra Christiane Curci Regis: “Incentivar o parto normal é um desafio enfrentado pelos médicos. Mas, em alguns casos a cesariana é a única opção. Quando o bebê não está em posição cefálica, quando o útero da mãe não se dilata, quando a placenta cobre o colo do útero, impedindo a passagem do bebê, são algumas situações em que a cesárea é necessária” (leia as dicas da médica no artigo O que as mães precisam saber na hora do parto? no Palpite Plus). Fora que já ouvi relatos de mulheres que foram literalmente “dilaceradas” por dentro por conta do parto normal e que praticamente todas as enfermeiras que conheço se referem a este tipo de parto como “anormal”.
Sempre tive a convicção de que se chegasse nesse momento e que a saída do bebê se desse de uma forma natural, optaria pelo parto normal, com certeza. Agora esse negócio de ficar horas sofrendo, suportando toda a dor do mundo, berrando e esgarçando o corpo não só não me parece a coisa mais normal do mundo como não me convence de que isso possa, de alguma forma, influenciar no vínculo mamãe-bebê. Se fosse assim, como explicar a completa falta de vínculo entre mães que têm seus bebês em casa ou em qualquer lugar no meio da rua e os abandonam em seguida? E como explicar o vínculo extremamente forte entre mães adotivas e seus filhos, que embora não tenham sido gerados no ventre foram amorosamente gerados no coração?
A amiga que me enviou a mensagem também fará cesárea.  Ela fez uma cirurgia grande para retirar um mioma e o médico recomendou a cesariana para evitar uma rotura do útero no parto normal. E aí? Alguém vai ter a coragem de me dizer que ela é menos mãe porque não quer colocar em risco a própria vida? Recorro ainda ao exemplo de minha mãe. Segundo ela meu parto foi tranqüilo, nasci de parto normal sem a menor dificuldade, mas meu irmão estava enrolado no cordão umbilical. E aí? Ela deveria ter insistido para ter parto normal correndo o risco de perder o bebê?
E eu que passei toda a gestação “conversando” com a barriga; cheguei a mandar passar para CD todos os meus discos de vinil que ouvia na infância e, até ter que parar de dirigir por conta do barrigão, ia e vinha do serviço cantando para minha bebê; e quando chegou a hora de ela vir ao mundo... Uma emoção sem fim! Antes mesmo de vê-la, só de ouvir o seu chorinho, o seu primeiro manifesto de vida, já fiquei completamente apaixonada. De lá prá cá, foram muitas noites em claro, muitas noites mal dormidas, muito cansaço, colinho e dores nas costas, mas acima de tudo muito amor e doação retribuídos a casa instante com beijinhos e abraços “de graça”, aquele sorriso lindo que só a Raphinha tem, e seus insistentes chamados que ao deixar tudo e todos para ficar comigo fazem com que eu me sinta a pessoa mais especial do mundo. E aí? Alguém duvida do nosso vínculo?
Enfim, acima de tudo, acredito que não importa o tipo de parto. O que importa é amar e dar amor ao filho acima de tudo. Amparar, cuidar e zelar pelo serzinho que acaba de vir ao mundo. O como? Cá prá nós, é o que menos importa.

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