segunda-feira, 11 de junho de 2012

Relação a três

Foto: Terezinha B. Silva

            Nesta semana em que se comemora o Dia dos Namorados acho mais do que justo falar sobre este relacionamento entre homem e mulher que um dia se casam, ou não, e de uma hora para outra se veem (sem acento com o acordo ortográfico) não mais em um relacionamento a dois, mas a três, quatro, cinco ou seis! Ou será que com exceção dos casos de sétuplos, óctuplos, nônuplos; alguém ainda tem mais de seis filhos hoje em dia? Bom, na verdade não importa o número, meu intuito aqui é lembrar aos casais que pode haver, sim, vida após a maternidade e, não só pode como deve haver, namoro também! 
            É inevitável, contudo, que o relacionamento do casal passe por uma grande (para não dizer total) transformação depois que se vira “pai e mãe”. Os dois ainda serão um casal, e vão continuar a se amar (se o amor verdadeiramente existir, é claro); só que as prioridades serão outras, as preocupações serão muito maiores e tudo o mais, a começar pelo dia-a-dia, será diferente.
            Ao fazer compras, por exemplo, você não vai mais pensar apenas no que ele ou ela gostaria, mas vai primeiro conferir como estão os preços na seção se fraldas ou se já chegou aquele novo modelo de mamadeira. Se antes das suas 24 horas diárias você passava metade (talvez mais ou menos) pensando nele ou nela, agora você vai passar 25 pensando naquele serzinho mais conhecido como seu filho; e ele ou ela vão ter que se contentar com apenas algumas horas (não mais exclusivas, mas sempre compartilhadas) de seus pensamentos. Rotina? Se você tem um recém-nascido tão cedo não vai saber o que é isso; lembre-se que, nos primeiros meses, as necessidades do bebê é que mandam. E por muito tempo será assim; até que a criança cresça, todo dia será uma aventura. Fazer uma simples refeição a dois passa a ser uma missão quase impossível, já que normalmente um vai ter que ficar com o neném no colo enquanto o outro “engole” a comida; ou até vão poder comer juntos, mas vai ter que ser bem rápido diante da iminência do pequeno acordar. Discutir a relação? Sinceramente, por um bom período você não vai ter tempo, muito menos disposição, para isso. Sexo? É claro que pode rolar enquanto o bebê dorme, mas fique sempre alerta com a possibilidade de interrupção abrupta ao primeiro resmungo, chamado ou choro incontrolável de quem acaba de despertar. Como alternativa (e como única opção para os pais de pequeninos que acordam de cinco em cinco minutos) para evitar a situação e ter que sair correndo no meio da hora H se enrolando no lençol, na peça de roupa mais próxima, ou sem roupa mesmo; só mesmo recorrendo a almas caridosas dispostas a passar um tempo com a criança como a vovó, a dinda, a titia, e por aí vai.
            É, a vida de um casal com filhos pequenos fica mesmo um pouco “atrapalhada” no início. Mas isso não significa que a criança atrapalhe a relação. Fica um pouco mais difícil, sim, até a gente se acostumar ao novo ritmo. Muitas vezes se acaba brigando porque ficamos nervosos com a responsabilidade de cuidar de uma vida totalmente dependente e, outras vezes, sem querer, descontamos no outro o nosso total desespero por simplesmente não saber o que fazer diante de uma crise de choro incontrolável daquele ser tão frágil. Mesmo assim, quando se consegue separar as coisas, quando se é capaz de pedir desculpas passado o momento de auê, e quando há compreensão de ambas as partes; o relacionamento só tem a ganhar, justamente porque, agora, existe uma criança. Um filho é muito mais do que algo em comum, e na tentativa (cheia de erros e acertos) de garantir o melhor para o bebê o casal se torna uma dupla, aprende a trabalhar em equipe, cresce, amadurece, individualmente e também no relacionamento.
            Sem falar que no esforço de cuidar, na dedicação diária, cada um revela o que tem de melhor e os dois passam a se admirar e a se amar ainda mais. Se um dia o objetivo era ter o outro ao lado pelo resto da vida, agora tem-se um objetivo comum muito mais nobre que é fazer um terceiro, fruto desse amor, uma pessoa muito feliz. Talvez demore um pouco para vocês voltarem a ter aqueles momentos românticos de antes, e talvez a “demanda” de cuidados com o bebê seja tamanha que ultimamente mal tenham tempo para si mesmos quanto mais para namorar; mas o que importa é cultivar o amor nas pequenas coisas, nas pequenas oportunidades, ainda que isso signifique apenas levar um copo de café para o outro que passou a madrugada em claro com o neném ou um beijo de agradecimento por uma mamadeira preparada às pressas enquanto você estava trocando a criança.
            E se, segundo o dicionário, namorar é “cortejar; cativar; seduzir; atrair; cobiçar; desejar ardentemente; empregar todos os esforços por obter; ficar; andar em galanteios; tornar-se enamorado; ficar encantado; possuir-se de amor; apaixonar-se”, eu diria que um casal com filhos que consegue (e quando consegue voltar a) namorar o faz na potência máxima, pois para (re)viver este momento de namoro precisou antes passar muitas noites dormindo em camas separadas, às vezes meses sem mal tocar um ao outro, e sem saber o que é fazer um programinha a dois como ir ao cinema. O casal com filhos passa, sim, por um (longo em alguns casos) período de provação, mas se superada essa fase, que (acredite!) uma hora ou outra vai passar, decide continuar a namorar é porque merecem e podem, se assim quiserem, ser novamente eternos namorados...

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